terça-feira, 4 de março de 2014

Brincadeiras do Carnaval de Lisboa

Capa da Ilustração nº 76, de 16 de Fevereiro de 1929. Ilustração do pintor José de Almada Negreiros (1893-1970). (A revista contém textos sobre o Carnaval). Hemeroteca Digital

A quadra do Entrudo em Lisboa, era uma época de folias e loucura, expressa através de bailes, desfiles, jogos e cegadas. Ao longo do século XIX, o Carnaval conheceu uma evolução significativa, perdendo muito da sua agressividade. No entanto, muitas brincadeiras grosseiras e até perigosas, mantiveram-se firmes durante a segunda metade do século XIX e inicio do século XX, como molhar com água (misturadas com “cheiros” ou outros líquidos menos agradáveis) os transeuntes, atirar farinha e pó de talco ao cabelo e à roupa, arremessar projécteis, desde ovos, tremoços, talos de couve, molhos de cebolas, alhos e laranjas. Quem andasse desprevenido pelas ruas da cidade, arriscava-se a levar banho de agulheta ou ser enfarruscado dos pés à cabeça. 

Capa da Ilustração nº 316, de 16 de Fevereiro de 1939. Ilustração do pintor José de Almada Negreiros (Espanhola). (A revista contém texto sobre o Carnaval). Hemeroteca Digital
 Capa da Ilustração nº 4, de 16 de Fevereiro de 1926. Ilustração do pintor Stuart Carvalhais (1887-1961) - Hemeroteca Digital.

Panelas velhas, objectos de cozinha e todo o ferro-velho que, durante o ano inteiro, se guardava em casa, eram atirados para cima de quem passava nas ruas ou pelas portas das casas de habitação (caqueiradas).
A partir do meio do século XIX, vulgarizaram-se os produtos “fingidos” (pudins, frango assado, ovos fritos, arroz-doce) fabricados em diversos materiais, as caixas francesas com "surpresas" (de onde saltavam ratos, rãs...), bem como as serpentinas e os papelinhos, cortados ou picados. Ao mesmo tempo, avultavam os explosivos, como a “massa de estalos” e as bombas à base de fulminato de prata, apesar de sucessivamente proibidas pelas autoridades (a partir de 1845).

Capa da Ilustração Portuguesa nº 524, de 6 de Março de 1916. Ilustração do pintor Stuart Carvalhais. (A revista contém "crónica" de Júlio Dantas sobre o Carnaval) - Hemeroteca Digital.

Capa da Ilustração Portuguesa nº 418, de 23 de Fevereiro de 1914. Ilustração do pintor Stuart Carvalhais, "Jogando o Carnaval". (A revista contém um desenho de Rafael Bordalo, texto e fotos sobre o Carnaval) - Hemeroteca Digital.

Para brincar no Carnaval, os foliões trabalhavam seriamente durante um mês: realizavam disfarces, recortavam tiras de jornais velhos (rabo-levas) para pendurarem nas costas dos mais desprevenidos, preparavam as cegadas que percorriam as ruas da capital com o XéXé a abrir o caminho. Os mascarados usavam disfarces tradicionais como a criada e o polícia de cassetete em punho, o galego, os pierrots, as pierrettes e as pastorinhas. 


Capa da Ilustração Portuguesa nº 836, de 25 de Fevereiro de 1922. Ilustração do pintor Jorge Barradas (1894 - 1971).(A revista contém textos sobre o Carnaval) - Hemeroteca Digital.



Capa da Ilustração Portuguesa nº 781, de 5 de Fevereiro de 1921. Ilustração do pintor Tomás Leal da Câmara (1876-1948). (A revista contém textos e imagens sobre o Carnaval) - Hemeroteca Digital.

Os bailes de máscaras públicos ou privados, tornaram-se uma das principais manifestações festivas carnavalescas. Realizados em casas particulares, associações recreativas, clubes e outros espaços públicos (Coliseu dos Recreios, Casino Lisbonense, Circo Price…), para além dos teatros D. Carlos e D. Maria II (onde se reunia a melhor sociedade), do Trindade (no Carnaval de 1867 abriu ao público o Salão do Trindade, e iniciou a moda dos bailes de máscaras infantis nos anos 1870) e do Monumental (com matinées e soirées de Carnaval nos anos 1950), propiciavam a exibição de disfarces com alguma originalidade, riqueza e motivos exóticos.
 
Capa da Ilustração Portuguesa nº 51, de 11 de Fevereiro de 1907. (A revista é dedicada ao Carnaval) - Hemeroteca Digital.
Os cortejos carnavalescos constituídos por carros alegóricos, desciam a Avenida da Liberdade, onde a população se aglomerava ao longo da  rua, para assistir à passagem das máscaras, que seguiam a pé, a cavalo ou de carruagem. 

Ilustração Portuguesa nº 51, de 11 de Fevereiro de 1907. "Aspecto do carnaval de 1903. Primeiro cortejo do rei Carnaval" - Hemeroteca Digital
Ilustração nº 76, de 16 de Fevereiro de 1929. "O Entrudo do 1929. Vários aspectos do Corso da Avenida da Liberdade e dos pequeninos mascarados, as duas notas curiosas dos festejos carnavalescos deste ano" - Hemeroteca Digital
O Occidente: Revista ilustrada de Portugal e do Estrangeiro nº 5 , de 1 de Março de 1878. "Cenas do Carnaval de Lisboa", por Manuel de Macedo. Pode ver-se algumas das brincadeiras de Carnaval e as travessuras a que eram sujeitos os cães (ao lado inferior direito).


 Fontes:




http://www.inatel.pt/trindadehome.aspx?menuid=113
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_Leal_da_C%C3%A2mara
http://pt.wikipedia.org/wiki/Stuart_Carvalhais
http://pt.wikipedia.org/wiki/Almada_Negreiros

Mattoso,José, História de Portugal. O Liberalismo (1807-1890). Estampa 



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