sábado, 8 de março de 2014

A mulher na Primeira Guerra Mundial

Mulheres empregadas numa fábrica de munições, na Alemanha, durante a Primeira Guerra Mundial -  Foto, colecção Robert Hunt/ Mary Evans Picture Library

No centenário do inicio da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), evoco a importância da actuação das mulheres antes e durante a guerra, visando mudanças sociais significativas.

Capa "The Illustrated"- "Notícias de Guerra". Uma jardineira, durante a guerra, montada numa motocicleta com sidecar, o qual transporta ferramentas de jardinagem - Mary Evans Picture Library

The House That Man Built. Cartaz, c. 1908. Na ilustração, sufragistas distribuem folhetos para a igualdade no direito ao voto - The March of the Women Collection /Mary Evans Picture Library

A luta pelo direito à participação na vida política e ao voto feminino (iniciado em 1897 no Reino Unido), no período imediatamente antes da Primeira Guerra Mundial, atingiu um ponto culminante, quando a militante do movimento pelo voto feminino, Emily Davison (1872-1913), se atirou, durante a corrida Derby d’Epsom 1913, para a frente do cavalo do rei Jorge V, tornando-se a primeira mártir do movimento.



Women's Volunteer Reserve, Novembro de 2016. Voluntárias do Royal Mail (serviço postal nacional do Reino Unido), durante a Primeira Guerra Mundial. Aqui, recebendo instruções sobre um motor Foto, colecção Robert Hunt/ Mary Evans Picture Library
Uma mulher motorista de tractor, em Kent, durante a Primeira Grande Guerra. Uma das inúmeras funções tradicionalmente masculinas, assumidas por mulheres - Foto, Mary Evans Picture Library
Maquinista feminina na Escócia, durante a Primeira Guerra Mundial -  Foto, colecção Robert Hunt/ Mary Evans Picture Library/ Imperial War Museum

Mais tarde, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as sufragistas deixaram as ruas e assumiram importante papel nos esforços de guerra. Emmeline Pankhurst (1858-1928), fundadora da União Social e Política das Mulheres, WSPU (1903) -  pela defesa dos seus direitos em Inglaterra - colocou as suas brigadas femininas bem organizadas, à disposição dos esforços de guerra. 



Mulheres que trabalham durante a Primeira Guerra Mundial, ilustração, 1915. Acima: numa fábrica de armas, enchendo os reservatórios com explosivos. Abaixo: uma cena ao ar livre com uma condutora de autocarro, uma mulher carteiro (à direita) e membro da WAAC (Corpo do Exército Auxiliar Feminino) - Mary Evans Picture Library

Back our girls over there, YWCA, 1918. Cartaz: litografia. Autora: Clarence F. Underwood. O cartaz de campanha de trabalho, mostra uma jovem sentada numa central telefónica, com soldados em fundo - USA Library of Congress
The Girl on the Land Serves the Nation's Need, YWCA, 1918. Cartaz: litografia. Autor: Edward Penfield - No cartaz, quatro raparigas carregam ferramentas e uma cesta com produtos, enquanto conduzem um par de cavalos - USA, Library of Congress

A guerra contribuiu de forma considerável para a mudança do papel das mulheres, ao exigir a sua participação em diversos sectores de actividade económica, onde se integravam os trabalhos mais pesados. 

Elas começaram a evidenciar-se nas fábricas e a exercer inúmeros cargos tradicionalmente masculinos. As mulheres desempenharam outras funções como condução de autocarro, eléctrico e táxis, distribuição de correio, limpa-vidros, jardinagem... Como enfermeiras, estiveram presentes no campo de batalha e hospitais de campo socorrendo os feridos, em acções de prevenção sanitária, na preparação de próteses e material para curativos. Nas áreas da indústria e engenharia, também houve um aumento significativo do número de mulheres.

Stage women's war relief, 1918. Cartaz: litografia. Autor: James Montgomery Flagg - No cartaz, uma mulher no palco, tira um manto escarlate debruado com pele, para mostrar o uniforme branco de voluntária - USA, Library of Congress

If you want to fight! Join the Marines, 1915. Cartaz. Autor: Christy, Howard Chandler - No cartaz, uma mulher em uniforme militar, numa cena de guerra de trincheira, com tropas carregando a bandeira dos EUA e a bandeira dos fuzileiros - USA, Library of Congress

Women's Land Army - Cartaz de propaganda britânica da Primeira Guerra Mundial, encorajando as mulheres a juntar-se ao exército das mulheres da terra, para ajudar a alimentar o país - Corbis
Heroínas obscuras - Nas regiões, onde a luta é mais intensa, as mulheres, alheias aos perigos, entregam-se aos trabalhos agrícolas, enquanto os homens dão a vida em defesa da pátria no campo de batalha - Desenho de Ferreira da Costa - Ilustração Portuguesa nº 530, 17 de Abril de 1916 - Hemeroteca Digital

Em Portugal, as enfermeiras da Cruzada das Mulheres Portuguesas (CMP), cuidavam dos feridos de guerra no Hospital Militar da Estrela e no Hospital Militar de Belém. A CMP foi um movimento de beneficência feminino presidido por Elzira Dantas Machado (1865- 1942), esposa do Presidente da Republica Portuguesa, à época, Bernardino Machado. A partir de Março de 1916, ano em que o movimento foi criado, prestou assistência moral e física aos soldados portugueses mobilizados por motivo da Primeira Guerra Mundial. A extinção da CMP ocorreu em 1938, tendo o seu património sido transferido para a Liga dos Combatentes da Grande Guerra.

A CML foi condecorada com a Grã-Cruz da Torre Espada, galardoando os seus altos e humanitários serviços durante a Guerra, no dia 12 de Junho de 1919. 


Portugal na guerra. No Paço de Belém: - A srª D. Alzira Dantas Machado, esposa do sr. dr. Bernardino Machado, presidente da República, com as senhoras que formam a comissão da Cruzada das Mulheres Portuguesas - Ilustração Portuguesa nº 529, de 10 de Abril de 1916 - Hemeroteca Digital.
Um grupo de senhoras da Cruzada das Mulheres Portuguesas, em serviço no Hospital da Estrela. Ilustração Portuguesa, nº 631, 25 de Março de 1918, pág. 229. Fotógrafo: Ernesto de Carvalho - Hemeroteca Digital
No Relatório Geral / Cruzada das Mulheres Portuguesas (1918-1919), capítulo "Opinião da Imprensa", página 184, pode ler-se no texto publicado por "A Pátria", em 16 de Janeiro de 1919: " Recebemos o último relatório, inteligentemente organizado, da benemérita "Cruzada das Mulheres Portuguesas". Consoladora foi essa para nós, que acreditamos no valor da nossa raça, na abnegação e altruísmo da mais santa das mulheres - a mulher portuguesa - carinhosa, amante da sua Pátria, sempre pronta a sacrificar-se pelas nobres e justas causas. Consta do relatório toda a larga e benemérita acção desse nobre punhado de mulheres que à Pátria se dedicaram, velando pelo soldado português, assistindo aos feridos e aos repatriados. 
Bonita obra, por tantos abocanhada. Transcrevemos na nossa 4ª página uma pequena parte do interessantíssimo relatório felicitando vehementemente a ilustre presidente as diversas Comissões que dirigem a obra da "Cruzada". (Imagem modificada digitalmente) - Relatório Geral / Cruzada das Mulheres Portuguesas. Lisboa: CMP, 1918-1933. Biblioteca Nacional de Portugal

No Relatório Geral / Cruzada das Mulheres Portuguesas (1917-1918), capítulo "Comissão Executiva da Enfermagem de Guerra, página 15, pode ler-se em "Garantia das Enfermeiras de Guerra": "Pelo decreto a publicar as senhoras enfermeiras serão remuneradas de fora que bem lhes compense materialmente o seu trabalho. Num país como o nosso em que não há profissões remuneradas para senhoras, um largo e bom caminho se abre a todas aquelas que se compenetrarem bem, não só do dever cívico que lhes pede trabalho e sacrifício, como do alto dever moral de cada um procurar tornar-se independente pelo próprio esforço honesto e útil. As sub-comissões da "Cruzadas das Mulheres Portuguesas", de acordo com os senhores médicos, organizando cursos de enfermagem em todo o país pelo programa que a "Comissão Executiva" não tem dúvida de fornecer; facilitarão o trabalho urgente de organização dum Corpo de Saúde de Guerra, porque muitas senhoras não podem deslocar-se gratuitamente, para fazerem os cursos em Lisboa, vindo depois de diplomadas, se forem aceites as suas garantias morais e aprovadas pela Junta Médica, fazer o estágio já remuneradas. Toda a urgência é pouca num trabalho de tanta necessidade, esperando-se do patriotismo das Mulheres Portuguesas a larga incrição que se faz mister". Lisboa, 15 de Agosto de 1917.(Imagem modificada digitalmente) - Relatório Geral / Cruzada das Mulheres Portuguesas. Lisboa: CMP, 1918-1933. Biblioteca Nacional de Portugal


Portugal, on les auras. Postal ilustrado com representação de figura feminina com uniforme militar (Guerra 1914-1918). Autor: Xavier Sager. Publicado em Paris por A. Noyer (1916-1918). Colecção: Fantaisies trichromes; Les femmes alliées soldat - Biblioteca Nacional de Portugal

A verdadeira emancipação das mulheres, não seria conseguida apenas com uma actividade profissional dependente, paga a um preço inferior ao pago aos homens, agravada por condições de trabalho deploráveis. Muitas mulheres insatisfeitas com a situação, começaram a organizar-se em sindicatos, exigindo através de diversas formas de luta, como a greve, condições de trabalho melhores. 

  
Bobette! Ilustração de Higgins, 1918 (Legião de Mulheres). Na ilustração, uma mulher veste o uniforme da Legião Feminina (Women's War Services Legion), na Primeira Guerra Mundial. A Legião fornecia todos os tipos de serviços, incluindo cozinhar para o exército, conduzir e trabalhar a terra. A mulher de uniforme, provoca uma expressão desconcertada no rapaz (à esquerda) - Mary Evans Picture Library

Mulheres de uniforme, 1915. Ilustração de Annie Fish em The Tatler's Letters,  demonstrando os tipos de uniforme usado pelas mulheres trabalhadoras durante a Primeira Guerra Mundial. No desenho mostra uma enfermeira, um membro da WAAC e motorista de autocarro - Mary Evans Picture Library
Hospital de guerra Kensington Supply Depot, 1917. Numa sala do hospital, mulheres executam talas de papier mache para soldados feridos durante a Primeira Guerra Mundial. O trabalho pioneiro de criação de talas de sacos de papelão, foi iniciado por duas escultoras,  Elinor Halle e Anne Acheson - Mary Evans Picture Library

Em 1918, com a aprovação do Representation of the People Act, as inglesas com mais de 30 anos, obtiveram finalmente o direito de voto. Habilitando-se ao sufrágio, as mulheres poderiam ser elegíveis, tendo a possibilidade de concorrer de igual para igual com os homens por cargos electivos.  A lei britânica deu forças a mulheres de outros países em busca dos seus direitos ao voto e à participação na vida política.


Primeira Guerra Mundial. Enfermeiras num hospital de campo em França, socorrem soldados feridos, em Outubro de 1916. Aguarela de FOUQUERAY, Charles - Mary Evans Picture Library 
Enfermagem do campo de batalha. Cartão postal, onde se vê uma carroça militar e uma enfermeira da Cruz Vermelha, fornecendo suporte no campo de batalha para as tropas da frente ocidental durante a Primeira Guerra Mundial - Mary Evans Picture Library / Colecção Gasca
Achetez le Timbre Antituberculeux, Paris, 1917. Cartaz: litografia. Autora: Vilá. No cartaz, uma enfermeira olha para crianças que brincam ao ar livre - USA, Library of Congress
You can help, Cruz Vermelha Americana, 1918. Cartaz: litografia. Autora: Benda, Wladyslaw T. O cartaz mostra uma mulher jovem fazendo tricô - USA, Library of Congress

"Have you answered the Red Cross Christmas roll call?", 1918. Cartaz: litografia. Autor: Fisher, Harrison. No cartaz, uma enfermeira da Cruz Vermelha estende a mão. Soldados marcham com a bandeira americana - USA, Library of Congress

"Kultur" ameaça a enfermeira Edith Cavell, que ajuda um inimigo ferido. Cartão postal do pintor Tito Corbella (1885-1966).  Impresso por Inter-Art Co., Red Lion Square, London, W.C. British Manufacture Throughout. - Universität Osnabrück | Historische Bildpostkarten


Edith Cavell nasceu no Reino Unido (1865-1915). Durante a invasão das tropas alemãs na Bélgica, ajudou centenas de soldados aliados a fugir para a Holanda neutra. 

Foi presa pelos alemães, condenada à morte e executada a tiro no dia 12-10-1915. A sua memória é ainda hoje homenageada pela Igreja Anglicana.



" La Baionnette" (1915-1920), A Guerra e as Mulheres. (Ilustração do periódico "A Baioneta"  por Fabien Fabiano). Biblioteca Nacional de França.

Fontes:
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1916/N530/N530_item1/P14.html
http://www.maryevans.com/home_2008.php?usr=notlogged&job=3191369&prv=menu
http://www.corbisimages.com/
http://www.loc.gov/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sufragismo
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1916/N529/N529_item1/P7.html
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/IlustracaoPort/1918/N631/N631_item1/P11.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada_das_Mulheres_Portuguesas
http://www.momentosdehistoria.com/MH_04_04_Coragem.htm
http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/btv1b53078894p/f1.planchecontact.r=f%20fabiano.langPT
https://fr.wikipedia.org/wiki/La_Ba%C3%AFonnette
https://fr.wikipedia.org/wiki/Edith_Cavell


Nesta mensagem adicionei textos e imagens sobre "Cruzada das Mulheres Portuguesas", no dia 27 de Julho de 2014.



 


11 comentários:

  1. Muito bom o conteúdo. Me ajudou bastante no meu trabalho de Enfermagem.

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  2. Gostei muito de ler o post, parabéns.......bela investigação. Beijo !

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    1. Com este post descobri situações que desconhecia! Obrigada pelo incentivo. Beijo!

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  3. Esqueci-me de lhe dizer que já sigo o seu blogue há uns tempos!

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    1. Fiquei muito sensibilizada com as bonitas palavras de apreço e incentivo. Agradeço do fundo o coração. Um abraço,

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  4. Muito obrigada pelo post. A informação deu-me uma grande ajuda para o meu trabalho de pensamento contemporâneo

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    1. Fico feliz por saber que "ajudei". Agradeço o seu simpático comentário. Felicidades e um abraço!

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  5. Sensacional, me ajudou muito na aula, obrigada

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  6. Eu é que agradeço o seu apreço.
    Felicidades

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